sexta-feira, 17, maio, 2024
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Ministros das Américas mostram preocupação com fome e protecionismo durante pandemia

 
Representantes de 34 países da América Latina e Caribe, EUA e Canadá se reuniram hoje em um encontro virtual de cúpula convocado pela Secretaria de Agricultura do México, organizada pelo IICA e pela FAO, e manifestaram preocupações com o aumento do protecionismo e da fome.
Trata-se do segundo encontro de cúpula de agricultura realizado desde que foi declarada a pandemia do novo coronavírus. Foto: divulgação.
Fortalecer a segurança alimentar, ameaçada pela pandemia, por meio de apoio à produção agropecuária para aumentar a produtividade, facilitar o comércio intrarregional e reforçar a agricultura familiar. Esses foram os principais compromissos anunciados por ministros e secretários de agricultura e pecuária de 34 países das Américas, que se reuniram hoje, de forma virtual, atendendo a uma convocação da Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México, sob a organização do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) e a Agência das Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO).
 
Trata-se do segundo encontro de cúpula de agricultura realizado desde que foi declarada a pandemia do novo coronavírus, que, além dos efeitos destrutivos na saúde pública e na economia, afeta também o abastecimento de alimentos ao criar riscos sanitários e produtivos para os agricultores, afeta o funcionamento dos canais de comercialização, cria obstáculos ao comércio e  problemas de logística, entre outros. 
 
“O propósito da reunião é compartilhar políticas, ações e planos para enfrentar o impacto da pandemia de Covid-19 na segurança alimentar, na agricultura, nos sistemas alimentares e na área rural do hemisfério. Devemos manter o diálogo de coordenação e as relações para manter o intercâmbio de informação, de produtos e de medidas de sanidade agropecuária, a continuação dos mercados e o apoio necessários às médias e pequenas empresas”, disse o secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México, Víctor Villalobos, ao abrir a reunião.
 
O director-geral do IICA, Manuel Otero, um dos coorganizadores da reunião ministerial, apresentou dados do organismo especializado em desenvolvimento rural e agropecuário, que mostram um forte incremento das exportações agrícolas da América Latina desde o início da pandemia, apesar da queda generalizada das vendas externas totais. “Os dados confirmam que o setor agropecuário é altamente resiliente e está convocado para ser uma das pontas da reativação econômica no hemisfério. Temos que reforçar essa tendência com mais comércio intrarregional e poio sustentável à agricultura familiar, disse Otero.
Ele reconheceu a maturidade dos países do hemisfério ocidental por rejeitarem medidas protecionistas e pelo apoio à fluidez dos fluxos de comerciais transfronteiriços e intrarregionais mediante a generalização dos certificados eletrônicos, mas advertiu sobre a necessidade de reforçar ao máximo a cooperação continental e alertou para questões que qualificou como “preocupantes”, como o fato de países exigirem Certificação Livre de COVID-19 para produtos da região e convocou a todos a sustentar e apoiar a atividade dos agricultores familiares, responsáveis por até 70% dos produtos que compõem a cesta básica. “Por isso ressaltamos que sempre, e especialmente nesta conjuntura dramática, os produtores da agricultura familiar devem ser tão prioritário quanto os profissionais da saúde e os agentes de segurança pública”, destacou Otero, que lembrou que a COVID-19 praticamente impossibilita os serviços de extensão rural presencial, razão pela qual propôs também a utilização intensiva de tecnologia para levar assistência remota a este setor. “Precisamos de uma revolução agrícola digital na agricultura familiar e podemos fazer isso, porque as tecnologias necessárias para isso têm baixo custo, mas um comprovado alto retorno”, disse o diretor-geral do IICA.
 
De acordo com a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, o agro se mantém sob forte pressão, mas continua demonstrando grande resiliência. “O recrudescimento do protecionismo não é o caminho”, disse. Segundo a ministra, “o diálogo hemisférico é fundamental para emergir da pandemia mais fortes”.
O secretário do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, Sonny Perdue, pediu que sejam feitas reuniões com mais frequência e destacou o papel do México, que convocou o encontro, e do IICA e da FAO, como organizadores. “É importante manter o comércio nesta crise e assegurar que as pessoas tenham acesso a todos os alimentos”, disse Perdue, indicando que é preciso ter políticas para assegurar o fluxo de comércio. “Não queremos restrições injustificadas de alimentos por parte dos países. As normas de inocuidade devem ser transparentes e impulsionadas pela ciência”, disse. “O desafio da nossa época é alimentar o mundo, por isso nos preocupam propostas de políticas que possam ser proibitivas ao comércio e criar obstáculos para o comércio agrícola no mundo”, afirmou.
 
Para Marie Claude Bibeau, ministra de Agricultura do Canadá, “a Covid-19 mudou a vida das pessoas e ressaltou as inequidades, apesar da resiliência da cadeia de alimentos”. Ela ressaltou que as mulheres, os jovens e os povos indígenas estão entre os mais impactados, assim como as populações marginais.
 
A ministra canadense advertiu que “um acesso limitado pode aumentar o perigo da fome mundial e enfatizou que favorecer o comércio agrícola é vital para todos os cidadãos das Américas. “O comércio aberto e transparente é ainda mais importante durante a crise. Restrições às exportações devem ser evitadas, assim como impostos extraordinários e outras barreiras e obstáculos, o que pode levar à escassez, ao aumento de preços e a perda do sustento dos agricultores”, completou.
 
Dados compilados recentemente pelo IICA indicam que o setor da agricultura familiar precisa de mais acesso a materiais de biossegurança e aos canais de comercialização, como forma de evitar que o abastecimento de alimentos frescos seja prejudicado pela situação sanitária e suas implicações.
 
Antes da pandemia, cinco de cada 10 habitantes da zona rural eram pobres e um quinto deles passavam fome, mas a COVID-19 piorou a situação de vulnerabilidade ao afetar o emprego, a renda, portanto os hábitos de consumos trocados por dietas menos saudáveis e, consequentemente, afetando a segurança alimentar. 
 
Outros ministros e secretários descreveram os esforços de seus países para reforçar os programas de distribuição e alimentos à população mais pobre, o cumprimento de protocolos de segurança de segurança e saúde para os trabalhadores agrícolas, o controle sobre a especulação e ao desabastecimento, e fomento à produção de alimentos com políticas de créditos, insumos e sementes.
 
Os ministros também reafirmaram sua confiança na cooperação técnica internacional, por meio de organismos especializados como o IICA e a FAO, para complementar esforços para a inovação, a inclusão e a sustentabilidade agrícola e rural.
 
Esta foi a segunda reunião de cúpula agrícola do hemisfério realizada este ano, ambas coorganizadas pelo IICA e pela FAO. A primeira aconteceu no dia 22 de abril e foi convocada pelo ministro de Agricultura do Chile. 
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