Apesar de severo bloqueio econômico, Cuba tem alto nível científico

Por: Conexão Cuba

Tradução: Luiza Mançano

Voluntárias aguardam para a realização da Fase II b da Soberana 02, uma das vacinas testadas em Cuba contra a covid-19. Foto: divulgação.

“As instituições cubanas de pesquisa não funcionam como corporações capitalistas, baseadas em lucro”
Cuba tem 4 candidatas à vacina contra a covid-19, que são: Soberana 01, Soberana 02, Abdala e Mambisa. Os ensaios clínicos da Soberana 01 começaram em agosto de 2020 e, mais tarde, se juntaram à Soberana 02, Abdala e Mambisa. Isto faz da nação caribenha a primeira da América Latina a desenvolver seus próprios projetos de vacinas.
No caso de um pequeno país subdesenvolvido, submetido a um severo bloqueio econômico, comercial e financeiro por mais de 6 décadas e agora afetado, além de tudo, pela pandemia, pareceria impossível obter resultados seguros de qualquer valor prático em um setor no qual é necessário um alto nível científico.
Com este panorama, muitas pessoas podem estar se perguntando: essas candidatas a vacinas se tornarão realmente eficazes? Pode ser uma improvisação? E, caso chegue a ser aprovada, como é possível explicar este fenômeno?
A explicação deste evento só é possível se for pensada dentro da história do desenvolvimento científico de Cuba, que demonstra a existência de uma sólida plataforma científico-tecnológica e experiências no campo da criação e produção de medicamentos e vacinas.
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Devemos começar dizendo que a biotecnologia cubana foi inaugurada no início dos anos 80, junto com o surgimento desta ciência em outros países do chamado primeiro mundo. Isto foi possível graças a uma decisão política do Estado cubano. As instituições de pesquisa de Cuba, a propósito, não funcionam como corporações capitalistas, cujos objetivos centrais são a acumulação de lucros. Para Cuba, o eixo de todo este trabalho científico é a proteção do ser humano, a prevenção do sofrimento e da morte e, acima de tudo, a profilaxia. Os lucros, essenciais para a reprodução de todo o sistema de pesquisa-produção e o financiamento do sistema de saúde, são muito importantes, mas de forma secundária.
Em seus mais de 35 anos de existência, o polo científico cubano, chamado Biocubafarma, já conta com 32 empresas, 65 unidades de negócios básicos, 80 linhas de produção, 21 unidades de ciência e tecnologia e mais de 20 mil trabalhadores com idade média de 42 anos (mulheres, em sua maioria), dos quais 17 mil são profissionais, técnicos e trabalhadores com alta qualificação. Este patrimônio está distribuído em todas as províncias, o que garante ao país um desenvolvimento científico equilibrado.
Seu funcionamento é baseado em um “ciclo fechado”, que garante o desenvolvimento de todo o processo, do início ao fim, desde a concepção da ideia, pesquisa e desenvolvimento, até a promoção e comercialização dos produtos. Este sistema coordenado integra a cooperação entre os centros do polo científico com várias universidades, centros de pesquisa e instituições, incluindo, especialmente, o Ministério da Saúde Pública e sua rede gratuita e universal de hospitais gerais e especializados, clínicas, policlínicas e médicos de família. Não há concorrência que possa prejudicar o potencial de um esforço coletivo desse tipo.
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Os resultados vêm sendo observados há muitos anos. Atualmente, este sistema, que respalda os serviços nacionais de saúde e a cooperação internacional cubana, exporta produtos, equipamentos médicos e kits de diagnóstico para mais de 50 países; possui mais de 700 registros sanitários para diferentes produtos; possui mais de 2.500 patentes no mundo; fornece mais de 1.000 produtos para o sistema nacional de saúde e sua produção excede 60% da lista básica de medicamentos consumidos nacionalmente.
Ao longo desses anos, foram produzidos medicamentos importantes, vários dos quais são únicos, o que transformou Cuba em uma potência mundial neste campo. A lista é longa e inclui o Heberprot-P, o único medicamento deste tipo no mundo, que é usado no tratamento de pés diabéticos ulcerados, prevenindo amputações dos membros inferiores, e que já beneficiou quase 300 mil pacientes na América Latina, Ásia, África e Europa e está atualmente registrado em mais de 25 países.
Outros produtos exclusivos de Cuba são a vacina CimaVax EGF e a VAXIRA (Racotumomab), que constituem novos conceitos para o tratamento do câncer de pulmão e fazem parte da colaboração internacional cubana e lideram a cooperação entre Cuba e Estados Unidos no âmbito da ciência. Estes produtos também são promissores para o tratamento de câncer de cabeça, próstata, cólon, mama, linfoma, mieloma múltiplo e câncer de pâncreas. Milhares de pacientes com câncer de pulmão tiveram suas vidas prolongadas em Cuba e em outros países graças a esta vacina. Devido a sua importância transcendental, esta colaboração não pôde ser interrompida pelo bloqueio contra a ilha.
Na área de vacinas, deve-se ressaltar também que o Programa Nacional de Imunização de Cuba administra 13 vacinas, com mais de 98% de cobertura nacional, 11 das quais são produzidas inteiramente no país.
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Com relação à batalha específica contra a covid-19, vários produtos têm sido utilizados com sucesso em Cuba, China e outros países, incluindo o Interferon Recombinante Alfa 2B, sua combinação com o Interferon Gamma, e outras drogas que fortalecem o sistema imunológico, como o anticorpo monoclonal Anti-CD6, o peptídeo CIGB258 (Jusvinza) e o Heberferon, que passaram a ser administrados; A Biomodulina-T, o Nasalferon e um medicamento homeopático (PrevengHo Vir) também têm sido administrados a adultos idosos em instituições de cuidado a longo prazo. A aplicação da vacina cubana contra a meningite, Va Mengoc BC, foi iniciada para aumentar a capacidade imunológica dos pacientes e dos próprios profissionais de saúde que estão na linha de frente e que, por isso, receberam maior cuidado. Atualmente, mais de 20 medicamentos cubanos fazem parte dos protocolos cubanos para o tratamento e prevenção da covid-19. Esses recursos medicamentosos explicam a manutenção de baixos níveis de mortalidade por essa doença no país.
Deve-se acrescentar que Cuba desenvolveu o primeiro meio de transporte para a coleta e transferência de amostras clínicas nasofaríngeas e orofaríngeas para o diagnóstico da SARS-COV-2 e novos testes e o primeiro protótipo cubano de um ventilador pulmonar para respiração assistida foram criados. Foram realizados ensaios clínicos com células-tronco para tratar sequelas pulmonares em pacientes que tiveram a doença, e um estudo desenvolvido pelo National Genetics Group está em andamento para determinar a predisposição genética para a doença, o que permitirá personalizar os tratamentos.
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Estes resultados cubanos no campo científico são reconhecidos mundialmente. Além disso, como parte deste reconhecimento na área de combate à atual pandemia, a organização global InterAcademy Partnership (IAP) criou o Grupo de Especialistas IAP COVID-19, composto por 20 especialistas de alto nível, incluindo 8 cubanos.
Estes cimentos fundamentam e sustentam historicamente a produção das 4 candidatas à vacinas cubanas, das quais a Soberana 02 já está na Fase II de testes clínicos e deve, em breve, passar à Fase III, que incluirá 1.500 voluntários e, de acordo com seus resultados, poderá começar a ser aplicada maciçamente no primeiro semestre deste ano com cobertura para toda a população cubana.
Dentro dos planos e tendo instalações suficientes, o objetivo é produzir 100 milhões de doses em 2021, o que permitiria sua exportação e utilização na vacinação dos turistas que chegam à ilha e decidem pagar um preço, que certamente será modesto.
A Soberana 1 está em fase II de testes clínicos e já está começando a ser usada em pessoas que passaram pela doença com o objetivo de estender e reforçar a imunização. A Mambisa é uma vacina nasal e a Abdala é aplicada por injeção intramuscular. Ambas concluíram a fase I e Abdala, graças aos resultados promissores, já passou para a Fase II do teste clínico.
Até agora, todas as candidatas à vacina cubana demonstraram ser seguras, com um nível aceitável de reações e eficazes para gerar imunidade.
O representante da OPAS/OMS em Cuba, o Dr. José Moya Medina, tem acompanhado de perto essas experiências e seus comentários têm sido elogiosos. Um deles: “Estou otimista com os resultados, eles estão indo bem. Tenho a sorte de falar com os pesquisadores, de conversar com eles e de saber que as candidatos à vacina cubana estão progredindo bem. Esperamos que (…) Cuba seja o primeiro país da América Latina e do Caribe a produzir sua própria vacina, elaborada aqui no país (….) e que parte desta produção também possa ser disponibilizada aos países da região, estamos duplamente felizes”.
Este esforço cubano, como sempre, é marcado pelo desejo de fazer o bem à humanidade a partir de uma postura soberana, essencial para um país que foi submetido a um bloqueio criminoso quase desde o triunfo da Revolução.
Edição: Rogério Jordão

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