quinta-feira, 10, outubro, 2024
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Apesar de amar o críquete, Paquistão fabrica 60% das bolas de futebol costuradas a mão do mundo

Índia, Paquistão, Bangladesh e Mianmar ainda faziam parte do Grande Império Britânico e o futebol ainda não era um esporte popular no mundo inteiro quando um militar britânico baseado na cidade de Sialkot percebeu que sua bola estava furada. Como levaria cerca de oito meses para uma peça de reposição chegar da Europa, ele optou por pedir que um costureiro local a consertasse.
 
Segundo o artigo “On the Origins and Development of Pakistan’s Soccer-Ball Cluster” (“Sobre as origens e o desenvolvimento do aglomerado das bolas de futebol do Paquistão”), lançado em 2016 pela World Bank Economic Review, uma publicação do Banco Mundial, boa parte do fenômeno pode ser explicado por políticas locais de fomento industrial.
Já no início da década de 1960, por exemplo, governantes paquistaneses elaboraram uma área industrial específica em Sialkot, com terrenos à venda por metade do preço original. Na década de 1970, as autoridades locais adotaram um esquema de descontos para exportações de produtos manufaturados, permitindo que fabricantes reivindicassem diversos impostos.
 
Criou-se, então, um cenário para um grande volume de exportações, em uma região que já tinha uma sólida cultura industrial —o que resultou, de acordo com o artigo “On the Origins and Development of Pakistan’s Soccer-Ball Cluster” (“Sobre as origens e o desenvolvimento do aglomerado das bolas de futebol do Paquistão”), no “boom das exportações das bolas de futebol nas décadas de 1980 e 1990”.
 
Até 2016, o número de empresas que fabricavam bolas de futebol costuradas à mão na cidade era de pelo menos 130.
 
Quando a bola estragou de vez, o mesmo costureiro o surpreendeu, confeccionando uma nova unidade. O militar gostou tanto do resultado que encomendou outras seis para seu regimento. No fim, recomendou os serviços do costureiro para outros militares que queriam bolas na região.
A partir daí, a produção de couro de Sialkot ganhou um novo destino: as selas de montaria foram substituídas. Passados 130 anos, a cidade com cerca de 650 mil habitantes na província do Punjabe se tornou simplesmente essencial para o futebol mundial. Sem exageros.
 
“Cerca de 60% de todas as bolas de futebol (feitas manualmente) são costuradas na cidade de Sialkot, nordeste do Paquistão. Os trabalhadores ganham, em média, o equivalente a 700 libras por ano, o dobro do salário médio no país. Algumas das bolas de futebol podem custar até 100 libras cada na Europa”, relata o antropólogo norueguês Thomas Hylland Eriksen no livro “Globalization: the key concepts” (“Globalização: os conceitos-chave”), lançado em 2007. “Ironicamente”, lembra Eriksen no livro, “o Paquistão, viciado em críquete, é um dos países onde o futebol não é o principal esporte.”
 
No início da década de 1960, por exemplo, governantes paquistaneses elaboraram uma área industrial específica em Sialkot, com terrenos à venda por metade do preço original. Na década de 1970, as autoridades locais adotaram um esquema de descontos para exportações de produtos manufaturados, permitindo que fabricantes reivindicassem diversos impostos.
 
Criou-se, então, um cenário para um grande volume de exportações, em uma região que já tinha uma sólida cultura industrial —o que resultou no “boom das exportações das bolas de futebol nas décadas de 1980 e 1990”. Até 2016, o número de empresas que fabricavam bolas de futebol costuradas à mão na cidade era de pelo menos 130. “Entre as empresas em atividade em 2010, mais da metade foram criadas entre as décadas de 1980 e 1990, quando o programa de subsídios para exportação estava em vigor”, diz o texto.
 
 
 
 
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